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Potira: cerâmica e ancestralidade

Onde: Curitiba • 12 de Janeiro - 2023 | Fotos Divulgação

Dani Carazzai entrevista a artesã Eloisa Flores sobre a produção de cerâmicas cheias de significado

Esta entrevista foi publicada originalmente na edição 111 da Revista Casa Sul, disponível em nossa loja virtual


As mãos das mulheres que amam o mundo



Não é óbvio à primeira vista, mas um pote de cerâmica artesanal carrega mais do que o seu próprio conteúdo. Se nele armazenamos lentilha, ou usamos para colher amoras frescas, se abrigamos uma recordação de família ou descansamos a água, há neste objeto ainda mais do que isso tudo. Residem neste fazer ancestral os saberes de muitas mulheres do mundo. E uma delas se chama Eloisa Flores.




Das culturas africana e indígena, que guiam suas mãos pelo acordelado, ela abraçou a espiritualidade e os rituais que lhe são caros. Este atravessamento acontece, inclusive, pelo nome que Eloisa deu para o seu negócio: Potira Pottery. “Como meu sobrenome é Flores, eu pensei em procurar algo relacionado e descobri que flor em tupi-guarani é potira. Essa analogia com 'pote' casou muito bem com o que eu já estava fazendo”, explica Lô, como é chamada.


O que ela faz são cordas e mais cordas de massa cerâmica, que juntas e em seu tempo devido dão forma às peças da Potira. Aliás, o tempo é um aliado importante desta história, pois foi quando Lô deu uma pausa sabática para aprender escultura com o mestre Elvo Benito Damo, no Centro de Criatividade de Curitiba, que o encantamento se deu. "Costumo dizer que este saber acendeu em mim num momento muito despretensioso. Eu não esperava ter a habilidade que eu experimentei e tudo o que eu trouxe para a Potira veio dessa conexão. Então, eu chamo de presente”, conta.

Do design de moda, passando por um tempo em Lisboa, pela formação e prática em gastronomia, Lô se rendeu ao barro. “Fazer acordelado é tão bonito, tão potente. É como se eu acessasse as mãos de uma mulher, usasse este saber com as minhas próprias mãos e repassasse para as mãos de outra pessoa. Acho que as cordas têm esse poder de contar histórias e eu me sinto na obrigação de passar esse saber pra frente”, afirma. São histórias de dezenas de culturas que fazem seus próprios potes, suas próprias panelas, de forma utilitária e ritualística. “Isso me atrai muito”, completa.

Lô acredita que a forma múltipla de usar suas peças é também uma maneira de sermos mais sustentáveis. "Você adquire menos ao usar uma cerâmica para variados fins, consome com consciência, com reverência, com respeito”, afirma. E se isso por si só é um chamado urgente do mundo, o design único das peças da Potira trazem simplicidade e riqueza cultural para mais perto. “Eu quero trocar não só transformando isso em produto, eu quero trocar como história mesmo”, enfatiza a artista que confessa amar o mundo.

 

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