Você ainda usa isso?
Onde: • 07 de Abril - 2025 |Profissionais revelam o que já cansou, o que ressurge com nova linguagem — e o que continua fazendo sentido na arquitetura, apesar das modinhas

Quinze profissionais de diferentes áreas da arquitetura, interiores e construção responderam a um convite da Casa Sul para ajudar a desenhar o panorama atual sobre os caminhos que o mercado está trilhando. A ideia não era listar modismos, mas levantar percepções sinceras sobre o que continua presente nos projetos, o que já cansou, o que está voltando — e o que faz sentido manter ou abandonar.
As respostas revelam uma arquitetura mais madura e afetiva, com espaço para a personalidade dos moradores, o conforto e a funcionalidade. Soluções que foram repetidas à exaustão começam a dar lugar a propostas mais autorais, enquanto outros recursos voltam com força, mas em nova roupagem. A seguir, reunimos os pontos em comum, os contrastes e trechos que merecem ser lidos como verdadeiros testemunhos da prática profissional.
O ripado ainda resiste — mas pede criatividade
Entre os elementos citados como saturados, o painel ripado foi o mais mencionado. Ele continua sendo funcional e visualmente agradável, mas seu uso excessivo parece ter cansado os profissionais — especialmente quando aplicado sem critério.
“O painel ripado é uma solução que funciona, mas está em todos os lugares. Temos que ser mais criativos! Fazer o que todo mundo faz te mantém no mesmo lugar”, comenta Elisa Mielke, da Aell Arquitetura.
Ainda assim, muitos admitem que seguem usando, com cuidado no contexto, buscando diferenciações nos materiais ou na forma de aplicação.
Acabamentos com brilho perdem força
Os porcelanatos polidos e outros revestimentos com brilho estão entre os acabamentos mais citados como ultrapassados. A preferência atual vai para superfícies foscas, naturais e com aparência mais orgânica — especialmente em áreas comerciais, onde o fator segurança também pesa.
“A tendência dos foscos, naturais, além de ser mais atual, traz segurança ao usuário. Isso é muito importante em áreas comerciais”, pontua Patricia Zat, especializada em arquitetura corporativa.
Projeto BMA Studio | Fotos de Guilherme Pucci
De volta ao aconchego
Elementos afetivos e nostálgicos aparecem com força. O uso de móveis de família, texturas naturais e até pisos de madeira antigos revitalizados se tornou uma forma de trazer mais alma aos espaços.
“Gosto quando os ambientes trazem alguma alma. O espaço muito clean, muito neutro, nunca me agradou”, conta Rosa Dalledone.
“Antes escondidos, agora objetos de família são o valor da casa”, reforça Mariana Paula Souza.
Luciana Gibaile completa: “Simplificar materiais e mobiliários, tanto no layout quanto nas escolhas, é o que os clientes mais buscam. Querem espaços mais verdadeiros, com significado.”
Foto Antonello
Curvas, relevos e releituras
Soluções que marcaram décadas anteriores, como os móveis curvos ou os elementos vazados, voltaram ao radar — mas com novos materiais, paletas e aplicações. Estão mais sutis, leves e contemporâneos.
Andrea Sano destaca o resgate dos materiais como parte desse movimento: “O velho granilite, que era visto como ultrapassado, agora volta com nova leitura, novos tons e aplicações mais modernas.”
“Elementos vazados foram superexplorados nos anos 70 e 80. Hoje eles voltam com tudo, em barro, cimentícios, novas cores e design”, concorda Elisa Mielke.
“Elementos arredondados e orgânicos, populares nos anos 50 e 60, estão de volta em bancadas, mesas, poltronas…”, complementa Ana Terra Graf.
Projeto Gourmet Casa Cor MG por Maiara Cancela - Foto estudio ny18
Iluminação: menos efeito, mais conceito
A iluminação também passou por uma mudança significativa. Os tradicionais spots embutidos, gessos com muitos rebaixos e lustres de cristal perderam espaço para propostas mais limpas e estratégicas, com LEDs minimalistas e arandelas discretas.
“A iluminação se renovou bastante nos últimos anos, a ponto de ser até complexo acompanhar”, explica Elisa.
“Abajures sumiram dos projetos, dando lugar às arandelas ou perfis de LED”, enfatiza Ana Terra Graf.
E nas reformas? O que os clientes mais pedem?
Quando o assunto é atualização de espaços antigos, a lista de itens que os clientes mais pedem para remover inclui:
• Texturas em paredes (grafiato, papel de parede antigo)
• Forros rebuscados com muitos spots
• Móveis escuros
• Revestimentos cerâmicos antigos
• Tamponamentos grossos na marcenaria
“Revestimentos pesados, paredes entre cozinha e sala, tudo isso sai. As pessoas querem mais leveza, integração e funcionalidade”, afirma Luciana Gibaile.
Projeto BMA Studio | Foto de Guilherme Pucci
O minimalismo já não é mais tão silencioso
Depois de anos em que o minimalismo dominou os projetos — com cores neutras, linhas retas e espaços quase sem personalidade —, muitos profissionais apontam para um movimento de retorno ao calor, à memória e ao afeto.
“Gosto de ambientes com história. A arquitetura afetiva está cada vez mais presente. O importante é que a casa reflita quem mora nela”, ressalta Fabiane Risch.
A personalização ganha força, com misturas de estilos, reaproveitamento de objetos e uso de texturas naturais. A casa perde o ar de showroom e se torna um espaço mais autêntico e cheio de vivências.
Estilo boho e industrial: ainda presentes, mas com nova linguagem
O estilo boho, com suas tramas, elementos naturais e cores quentes, ainda aparece, mas de forma mais equilibrada. Já o industrial, que dominou projetos nos últimos anos com cimento queimado, luminárias aparentes e estruturas metálicas, também passa por uma atualização.
“O boho perdeu força, mas o uso de materiais naturais ainda permanece. Já o industrial, que era muito replicado, começa a sair de cena”, observa Mariana Souza.
Andrea Sano destaca que o estilo “Pinterest” perdeu força: “Ambientes padronizados, pensados só para impressionar, estão sendo deixados de lado. As pessoas querem verdade e conforto.”
Tecnologia: essencial, mas invisível
Outro ponto citado foi a presença crescente da tecnologia nos projetos, mas de forma mais integrada e discreta. Tomadas embutidas, automação da iluminação e som ambiente são soluções cada vez mais comuns — sem necessariamente serem o destaque visual.
“Tecnologia sim, mas sem deixar o ambiente frio ou impessoal. Ela tem que servir, e não aparecer demais”, comentou Rosa Dalledone.
Fonte: arquitetos e designers da Confraria Arquitetura e Design
@confrariaad