Quando a arquitetura influencia o paladar
Onde: • 29 de Agosto - 2025 |Enquanto o Guia Michelin avalia apenas a culinária, a experiência completa também envolve arquitetura e atmosfera do ambiente.

O projeto arquitetônico e de interiores de um espaço de gastronomia precisa estar em sintonia com o cardápio ou pode seguir por caminhos totalmente distintos? Essa é uma análise que vai além da estética: envolve percepção sensorial, narrativa e até a memória que o cliente leva da refeição.
Enquanto para o Guia Michelin - instituição, criada na França em 1900 pelo fabricante de pneus Michelin que avalia e premia restaurantes no mundo inteiro com base na qualidade da cozinha, técnica e consistência dos pratos - a atmosfera é irrelevante, ela pode ser decisiva para o público. As estrelas do Michelin não consideram o projeto arquitetônico nem o ambiente — a atenção está voltada exclusivamente à gastronomia. Cabe ao cliente, portanto, perceber o conjunto: afinal, comer não é apenas provar um prato, mas viver um espaço, respirar sua atmosfera e sentir-se parte de uma história.
Na edição 2025 do Guia Michelin Brasil, 21 estabelecimentos foram reconhecidos com uma estrela, enquanto apenas cinco conquistaram duas estrelas, destacando-se como “cozinha excelente”. Apesar de a avaliação oficial não considerar arquitetura nem serviço, esses elementos são considerados decisivos nos projetos arquitetônicos atuais para proporcionar uma experiência completa ao comensal. Selecionamos cinco endereços premiados para que você mesmo possa avaliar se realmente cada um deles está alinhado com a proposta do cardápio que oferece ou não.
D.O.M. (São Paulo)
O chef Alex Atala escolheu uma ambientação discreta, mas refinada, idealizada por Ruy Ohtake, cuja arquitetura ilumina e direciona o olhar à mesa propositalmente. Em um salão elegante, de luz controlada e materiais sóbrios, os ingredientes amazônicos dos pratos — como jambu, tucupi e palmito — tornam-se protagonistas, encaixando-se perfeitamente no minimalismo do espaço.
Evvai (São Paulo)
O espaço contemporâneo do Evvai, comandado por Luiz Filipe Souza, reflete a cozinha moderna e criativa de fusão ítalo-brasileira. Embora detalhes arquitetônicos específicos não sejam amplamente documentados, sua atmosfera clean complementa a delicadeza visual e gustativa dos pratos realçando a harmonia entre ambiente e menu. Foto Tadeu Brunelli.
Tuju (São Paulo)
Projetado pelo escritório SPBR Arquitetos (Angelo Bucci e equipe), o Tuju ocupa uma antiga casa reformada e ampliada no bairro Jardins desde 2023. A arquitetura valoriza o percurso imersivo: fachadas translúcidas, integração sutil com a cidade, interior conectado à horta que abastece a cozinha, criando transparência entre produção, espaço e culinária.
Oro (Rio de Janeiro)
Localizado no Leblon, o Oro combina contemporaneidade de um jeito brasileiro com o uso de madeira, vegetação e tijolos aparentes. Essa atmosfera acolhedora ecoa os menus “Creativity” e “Affection” de Felipe Bronze — sofisticados, mas com raízes locais e calorosas.
Lasai (Rio de Janeiro)
O pequeno Lasai, com apenas dez lugares, oferece uma experiência quase ritualística. A arquitetura compacta — intimista e conectada à cozinha e à própria horta — intensifica o vínculo com os ingredientes sazonais e cria um momento único e imersivo.