Poesia em porcelana
Onde: Curitiba • 10 de Maio - 2019 | Fotos Matheus ConradoA arte de Katheriny Mendes
Esse texto definitivamente deveria ser feito em formato de áudio. Ouvir Katheriny Mendes falar sobre sua vida e trabalho é uma experiência, para não dizer uma delícia. Vou guardar por muito tempo as respostas dela, gravadas em meu celular, para vez ou outra ouvi-las e lembrar a importância de estar apaixonado pelo que faz.
Perceber o que o outro deseja é o ponto de partida para a nova série de Jóias Performáticas. Empatia e delicadeza nas peças desenvolvidas pela artista plástica e arquiteta, que une o que há de mais precioso e relevante nos dois mundos. Ergonomia, usabilidade, estética e conceito são as premissas para criar arte vestível, escancarada nas jóias da nova série.
Segundo Katheriny, tudo começa pelo desenho, pois é a melhor linguagem para sua comunicação, sendo único e revelador, principalmente em uma peça de arte que se pode vestir. Em seu processo, 90% é feito pela artista, deixando bem claro seu envolvimento com o resultado final. São feitas em porcelana, moldadas e pintadas à mão, como pequenas esculturas, que fogem de espaços como galerias e museus, ocupando o espaço mais democrático possível, que é o corpo humano.
As peças não tem gênero nem público alvo definido. São muito mais do que um plano de negócios ou estratégias de marketing. As peças ocupam o corpo como plataforma de exposição, diferente de galerias e museus. Ocupam a alma de quem é tocado por uma peça.
Os temas sobre gênero e corpo estão sempre presentes nas criações de Katheriny. São peças feitas para pessoas, independente de sexo. Liberdade de permitir ser quem realmente é move a produção da artista. As peças são criadas no modelo slow fashion, em um processo lento e único, assim como cada indivíduo. Quem escolhe uma jóia performática, na verdade é escolhido por ela, pois quando a pessoa gosta da peça, usa como um amuleto, sendo um adereço de proteção. Afinal cada peça leva muito tempo para ser terminada, passando por vários processo delicados, sendo cada uma única e muito especial.
O traço, as massas de cor, color block e partes do corpo humano são caminhos trilhados pela artista para chegar ao resultado dessa nova coleção. A sensibilidade de olhar e perceber nuances e detalhes que a pressa do dia-a-dia não nos permite apreciar como deveríamos.
O caminho entre design e arte tem sido construído há muito tempo, por vários designers, arquitetos e artistas. Circular por entre esses mundos é construir referências e autenticidade. Por isso a busca poética de conteúdo de Katheriny entregou uma série tão encantadora e apaixonante. São 100 peças, entre colares, gargantilhas, brincos e anéis; todos imersos nesse universo tão rico e genuíno.
Quando perguntei à artista qual seu caminho para futuro, ela me contou que durante muito tempo, em contato com o meio acadêmico, se sentiu carente de referências femininas no mundo cultural e da arquitetura brasileira. Até mesmo os professores, nas duas faculdades que trilhou, sentiam não poder ter muitos referenciais brasileiros para apresentar. A partir disso, seu sonho é algum dia, humildemente, ser um nome de referência do design brasileiro. Inspirar e ajudar a trilhar caminhos de futuros estudantes e profissionais.
Se eu acredito nisso? MUITO. Katheriny é uma das poucas pessoas que conheci e que tocaram meu coração de forma verdadeira. Podemos ter vontade de crescer, podemos desenvolver coragem, podemos aprender a facilitar nosso trajeto, muitos nascem com talento outros são esforçados; mas nem todos têm propósito. Essa guria têm, e muito claro. Amei conhecer sua história e poder dividir com todos algo que ainda vai ser GIGANTE.
E mais uma vez vou aconselhar quem está lendo a abrir o coração para o novo, desenvolver sensibilidade para olhar o próximo e descobrir quem é de verdade.
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