Vivemos um tempo em que tudo parece ter prazo curto — dos objetos às ideias. O ciclo acelerado do consumo faz com que o novo substitua o existente antes mesmo que ele se torne obsoleto. Mas, na contramão dessa pressa, cresce uma consciência: preservar também é um ato de resistência. Em vez de descartar, é possível prolongar a vida útil das coisas, cultivando valor no que é feito para durar.

Essa discussão ultrapassa o campo da sustentabilidade. Trata-se de repensar o que, de fato, tem valor. Um móvel assinado por um grande designer é um patrimônio cultural. O mesmo se pode dizer de uma cadeira herdada da família, de um quadro comprado em uma viagem marcante ou de uma mesa feita sob medida que acompanhou uma história de vida.

Para os profissionais de arquitetura e design, esse é um desafio constante: projetar espaços que conciliem inovação e permanência. Criar o novo sem negar o que já existe. Incorporar materiais e peças herdáveis não apenas como memória, mas como um gesto consciente de ruptura com o descartável.
É com essa perspectiva que o ambiente “Entre Tempos”, assinado pelas arquitetas Flávia Koloske e Tainá Pravato, se apresenta na CASACOR Florianópolis 2025. O espaço de 82 m² reúne living, área gourmet, sala de jantar e recantos de introspecção, organizados de forma fluida para traduzir os diferentes ritmos da vida contemporânea: o convívio, a pausa, o silêncio e o encontro.

O mobiliário combina peças de designers brasileiros como Sergio Rodrigues e Estudiobola, ao lado de elementos de afeto e objetos de memória, reafirmando a ideia de que o design pode atravessar gerações. Mais do que um exercício estético, Entre Tempos se propõe como manifesto sobre o papel da arquitetura diante da impermanência. Ao defender o investimento em peças duráveis e materiais autênticos, o projeto reafirma que o design pode — e deve — resistir ao ritmo descartável do mundo.

O projeto reflete sobre o que é essencial e o que é supérfluo. A passagem do tempo está expressa nos materiais naturais que revelam veios, texturas e marcas de uso — uma escolha intencional que valoriza a verdade da matéria e a durabilidade como atributos de beleza.

A madeira, protagonista do espaço, aparece em painéis abaulados e superfícies contínuas, em diálogo com o quartzito Capadócia da mesa de jantar, criada em parceria com a Residual Design e a MG3 Mármores. A base da peça, esculpida a partir de um tronco reaproveitado, sintetiza o conceito do projeto: memória, autenticidade e permanência.

A paleta em tons terrosos, beges e fendi reforça o caráter atemporal do ambiente, enquanto o piso em pedra natural e os revestimentos minerais ampliam a sensação de solidez. A iluminação em camadas, composta por LED automatizado e luz difusa filtrada por uma malha de madeira no teto, atua como narrativa — destaca texturas, adapta atmosferas e otimiza o consumo energético.

CASACOR Florianópolis 2025

Avenida Governador Ivo Silveira, 3811 – Capoeiras, Florianópolis, SC
28 de setembro a 9 de novembro de 2025

Flávia Koloske – @arqme.arquitetura
Tainá Pravato – @tainapravatoarquitetura

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