Dois dias com Humberto Campana
Onde: Curitiba • 24 de Agosto - 2018 | Fotos Ricardo PeriniProjeto Mãos em Ação reúne convidados e promove o resgate do uso das fibras naturais
Recentemente fui convidada para participar do projeto Mãos em Ação, parceria entre o Instituto Campana, Ôda Design Club e produção de Consuelo Cornelsen. Através do Instituto Campana vários artesãos por todo o Brasil são homenageados, tendo sua arte e métodos resgatados com muito respeito e carinho.
Neste projeto em especial foi feito o resgate das fibras naturais, com a família Túlio, de Santa Felicidade; proprietários da Móveis Túlio, desde 1946, uma fábrica de mobiliário em vime e junco, muito tradicional, que trouxe da Itália as mudas de vime para perpetuar a arte no Brasil. A fábrica em seu auge já teve 100 funcionários mas com o passar das décadas e a crescente desvalorização dessa forma de arte, atualmente conta com Bruno, seu pai e um artesão.
Junto comigo estava uma turma de calibre grosso! Nomes como Leandro Garcia, Rodrigo e Maurício da FURF DESIGN, Ana Zimmermann, Bernadete Brandão, Dsgn Selo, Eduardo Bragança, Henning Kunow, Leonardo Sokolovicz, Romulo Lass, Wood Skull e Fábio que é membro da família Túlio.
Foram dois dias, na fábrica da família, aprendendo sobre a matéria prima e as técnicas para trabalhar com o material. Humberto Campana, com toda a sua calma e generosidade, sempre ao nosso lado, auxiliando nossas criações de forma delicada e rica. Nesse momento vou deixar de lado a polidez e não vou esconder que foi muito massa estar com o cara! Vejo as fotos e quase não acredito que poderei contar essa histórias no futuro. Obrigada Universo!
Cada um dos 11 convidados teve passe livre para criar uma ou mais peças, usando vime e junco como base. No galpão dos Túlios tivemos muitas opções de bases para serem trabalhadas, muitos esqueletos bacanas em aço carbono. A pressão inicial me deixou um pouco ansiosa, afinal, poxa vida, eram outros 10 convidados muito talentosos e a presença do Humberto. O primeiro dia foi de descobrimento e tentativas, conhecer os materiais e ter o insight de onde usá-los.
Comecei com uma cabeleira linda de piaçava, que virou uma peça de parede, com um belo pedaço de Imbuia como base e trama de junco filetado. Foi complexo, descobri que não tenho intimidade com esse tipo de trabalho! Passei a admirar ainda mais uma aluna minha que faz tapeçaria de parede depois dessa experiência.
Fui para casa e voltei inspirada no segundo dia. Toda a matéria-prima precisa ser umedecida ou mergulhada em água por um bom tempo para se tornar flexível, como eu não havia deixado o material de molho no dia anterior, resolvi trabalhar com o material seco. Para isso precisei encontrar uma base que possibilitasse uma curvatura à seco, foi então que dei de cara com uma estrutura de cadeira em aço carbono, toda enferrujada e muito minimalista. Deu match, era ela!
Mão à obra e depois de algumas horas surgiu a cadeira! Foi muito delicioso, me identifiquei muito com a peça. Adorei o resultado. É um trabalho duro e pesado, quase ficamos sem as pontas dos dedos, Leandro Garcia pode confirmar isso, com certeza.
Não preciso dizer que todas as peças, de todos os outros 10 participantes ficaram incríveis, não é?
Trocando em miúdos, foi uma grande e compensadora experiência, que jamais vou esquecer. Está guardada no coração.
O resultado estará em exposição física, que vai ser informada em breve.