A arquitetura que recria a sensação de casa nos prédios
Onde: Minas Gerais • 16 de Dezembro - 2025 | Fotos Jomar BragançaTermos como “casas suspensas” surgem do mercado para definir edifícios onde cada unidade rompe a lógica dos andares padronizados.
A expressão “casas suspensas” — também chamada de “casas no céu” — começou a ganhar espaço no mercado imobiliário para descrever projetos residenciais que rompem com a padronização típica dos edifícios verticais. Em vez de plantas repetidas, andares idênticos e fachadas rígidas, esses empreendimentos propõem unidades com volumetrias variadas, aberturas singulares e experiências espaciais que lembram mais uma casa do que um apartamento convencional. O termo, apesar de novo, traduz uma necessidade crescente: morar em altura sem renunciar luz, escala e individualidade.
Dentro desse movimento, o edifício Miró, projetado pelo Studio Henrique Hoffman e localizado em Curimataí — região de Buenópolis, Minas Gerais — apresenta uma interpretação madura do conceito. O edifício explora mudanças de forma entre os pavimentos, permitindo que cada unidade se desenvolva de maneira única. Enquanto alguns apartamentos avançam com varandas que se projetam em direções distintas, outros adotam mezaninos que criam relações verticais mais amplas, sempre buscando maximizar luz solar e vistas abertas para o Vale do Sereno.
Essa variação deliberada da arquitetura faz com que o edifício se afaste da lógica tradicional, oferecendo espacialidades que remetem à experiência de viver em uma casa térrea: interiores mais altos, áreas sociais conectadas a terraços profundos e uma percepção contínua da paisagem. A intenção não é apenas estética. Ao permitir que cada tipologia dialogue com a orientação do sol, com o recorte do terreno e com o próprio ritmo da fachada, o projeto cria unidades que se diferenciam umas das outras sem perder a coerência do conjunto.
O conceito também nasce de uma referência afetiva. O arquiteto Henrique Hoffman cita as casas rurais de Minas Gerais como ponto de partida — lugares de pé-direito generoso, mezaninos acolhedores e janelas que revelavam o horizonte. No Ed Miró, essas memórias são reinterpretadas em um arranha-céu de 40 pavimentos e 18.244 m² de área construída, onde a estrutura vertical não impede a sensação de amplitude nem a entrada de luz por diferentes ângulos.
A implantação reforça essa vocação. Todas as unidades são posicionadas para aproveitar ao máximo a paisagem montanhosa, e a fachada curva abre o campo visual conforme o morador se desloca pelos ambientes. O resultado é uma experiência de moradia que se desenrola em camadas — ora horizontalmente, ora verticalmente — sempre conectada à vista e ao ciclo solar. Mezaninos, terraços, janelas profundas e vazios internos não funcionam como adições isoladas, mas como parte de uma estratégia arquitetônica que busca ampliar a vida cotidiana.
Com orçamento de R$ 70 milhões e conclusão em 2024, o Ed Miró estabelece um marco dentro dessa tendência de residenciais que abandonam a repetição e abraçam a diversidade espacial. Em vez de oferecer apenas variações de metragens, o edifício apresenta variações de experiência. A identidade de cada unidade não vem apenas da decoração final, mas da própria forma como o espaço foi concebido.
No cenário atual da arquitetura residencial brasileira, projetos como esse indicam um novo caminho para o morar em altura — um caminho em que a verticalização não precisa significar perda de singularidade. O termo “casas no céu”, ainda recente e difundido pelo mercado, encontra aqui um exemplo concreto: apartamentos que assumem o protagonismo de uma casa, elevados, luminosos e projetados com a mesma atenção à vida diária que marcou as referências do arquiteto em Minas Gerais.
