Arquitetura

O retorno da rocha rústica na arquitetura

Onde: • 28 de Agosto - 2025 | Fotos Cesar Bejar

Do auge nos anos 70 ao protagonismo em projetos contemporâneos.

A pedra natural atravessa décadas como um material de forte presença na arquitetura e decoração. Nos anos 1970, foi amplamente utilizada tanto em áreas externas — fachadas, muros e jardins — quanto em interiores, como paredes de salas de estar, lareiras e painéis rústicos. Essa estética marcava um estilo robusto e natural, característico de projetos modernistas brasileiros e internacionais da época que se tornaram emblemáticos.

 

Nos anos posteriores, especialmente a partir de 1990 e 2000, a preferência por acabamentos lisos, como porcelanatos e pinturas neutras, afastou definitivamente o material de cena. A rocha bruta passou a ser vista como datada, associada ao excesso decorativo ou a um estilo pesado. Foi apenas nos últimos anos, em meio à valorização de materiais naturais e de uma estética que privilegia autenticidade e permanência, que ela retornou ao protagonismo. Hoje, aparece reinterpretada em projetos contemporâneos, aplicada de forma mais limpa, integrada e dialogando com conceitos de sustentabilidade e identidade local.

 

É nesse movimento que se insere o projeto em Tierra Blanca De Arriba, Guanajuato, no México, assinado pelo escritório HW Studio. Ali, a pedra quartzita, em cortes irregulares, recupera o valor da materialidade rústica dos anos 70, mas com uma abordagem atualizada: em vez de ser apenas revestimento, torna-se parte essencial do discurso arquitetônico.

 

 

Segundo o arquiteto Rogelio Vallejo, o ponto de partida não foi a casa em si, mas a montanha que domina a paisagem visível do terreno de mais de 10 mil m² . “A arquitetura não deveria competir com sua presença, mas servir como pedestal, como púlpito, para que sua silhueta ganhasse ainda mais peso e significado”, descreve. Assim, o gesto inicial foi a criação de um muro de pedra, que não atua como barreira, mas como limiar — um elemento que protege e, ao mesmo tempo, intensifica a relação com o entorno.

 

 

 

Esse muro, associado a um segundo volume perpendicular, deu origem a uma planta em cruz, que organiza o espaço em quatro quadrantes. Cada um deles traduz um modo de habitar: o jardim de espécies nativas que antecipa a entrada, a área de veículos integrada ao conjunto, o espaço central de convívio com simplicidade quase monástica e, por fim, o escritório, o único volume que se ergue em verticalidade, em referência aos monólitos da região de Santa Brígida.

 

 

O uso da pedra, tão marcante nos anos 70, retorna aqui com nova leitura. Se antes representava rusticidade e peso, hoje se manifesta como permanência, integração e respeito à paisagem.

 

Viver entre o abrigo e o ar livre


Outro aspecto ressaltado pelo projeto é a experiência do deslocamento. Para circular entre os ambientes, é preciso atravessar áreas abertas, sentir a brisa, perceber a mudança de temperatura e a filtragem da luz em diferentes momentos do dia. Essa vivência resgata referências de antigos mosteiros, nos quais a arquitetura não apenas delimitava espaços, mas moldava a experiência do habitar.

 

 

 

 

“Cada parede, cada limiar, cada espaço coberto ou aberto foi pensado para guiar o olhar e intensificar a presença da montanha, transformando-a em imagem permanente na memória de quem habita a casa”, afirma Vallejo.

 

 

No quarto, a parede de quartzito bruto se mistura ao entorno natural, enquanto grandes panos de vidro integram as árvores preservadas ao interior. Nesse diálogo, a arquitetura se coloca como discreta moldura: invisível diante da imponência do cenário, mas essencial para potencializar sua força.

 

 

Serviço

HW STUDIO Arquitectos

www.hw-studio.com