Sempre admirei o ar minimalista e sofisticado do Estúdio Boitatá, comandado pelas mentes inquietas da dupla Daniélle Carazzai e Rodrigo Ramirez, parceiros no trabalho e no amor. Uma jornalista que teve uma carreira forte em grandes empresas e um fotógrafo muito talentoso, juntos dão vida à idéias cheias de encanto que se transformam em peças para uma vida toda.

Podemos dizer que a história da marca começa muito antes de ter um nome. Dani costumava dizer que aos 40 anos daria uma guinada em sua vida, deixaria o mundo corporativo para trabalhar em algo seu e cheio de propósito. Muito bem, a data chegou, foi em 2012 o ano da virada! Após uma viagem de férias para o Uruguai, durante um período de despedida da empresa em que trabalhava, Dani resolveu que a hora havia chegado.

Durante a viagem entrou no museu Torres Garcia e foi impactada por uma exposição de Eva Diaz Torres, ceramista que hipnotizou sua atenção com um vídeo em que mostrava o processo de execução de suas peças, Daniélle me contou que assistiu em looping o vídeo até cair a chave de que era isso que seu coração desejava.

Voltou para o Brasil e saiu em busca de um curso de cerâmica, mas justo a escola que tinha o maior interesse em frequentar as aulas só tinha disponibilidade à tarde, por conta do trabalho não poderia fazer o curso. Não pensou duas vezes e pediu demissão para dar asas ao seu ímpeto de descobrir mais sobre o universo da cerâmica.

Enfim a sua busca por um propósito para chamar de seu havia chegado. Depois do primeiro curso fez aulas de torno e em 2014 abriu seu atelier em casa. Já mencionei que o casal vive na área rural de Campo Largo? Sim, viver entre a mata e ter o privilégio de plantar e colher é uma das felicidades de Dani, sua relação com a terra é muito profunda. Foi esse sentimento que deu o nome para a marca, Boitatá é uma lenda tupiniquim onde o personagem é uma cobra com olhos de fogo que defende a natureza; isso vêm de encontro com a cerâmica ser uma arte do fogo e o casal ter forte consciência ecológica, pois Dani trabalhou em uma ONG conservacionista.
“Honro tudo que veio antes de mim, com viés contemporâneo. Meu trabalho é retrato do meu tempo cheio de ancestralidade.”

Quando perguntei o que a motiva no trabalho com cerâmica, me contou que o processo é a razão de tudo, o resultado não é o foco principal; para ela estar presente e curtindo o caminho é o que torna sua rotina tão encantadora. Conversar com outras plataformas como pintura e desenvolvimento de instalações também alimenta sua rotina criativa, tendo como compensação mexer com as pessoas, ativando algum gatilho emocional, para haver alguma espécie de encantamento.

Um dos momentos mais especiais para a Boitatá foi a coleção de peças para servir, desenvolvidas juntamente com Manu Buffara para seu restaurante. Dani não queria chamar as peças de utilitários pois todo o processo de co-criação e desenvolvimento foram tão ricos que se tornaram obras de cerâmica para apoiar a comida. O nicho da gastronomia, a partir deste projeto tomou forma. As peças estrelaram um dos episódios do programa Chefs Brasileiros da GNT rendendo muito trabalho e desdobrando-se de forma muito especial. Também à convite de Manu Buffara desenvolveram uma obra artística para um evento na França, representando a chef brasileira com O Coração em Chamas, parceria com a Cannelle Design.

Para Dani e Rodrigo 2020 está sendo um ano particularmente triste por todos os acontecimentos no Mundo. Mas a pandemia também trouxe boas novas, apesar de tudo. Foi uma forma do estúdio se aproximar mais do cliente - resultando em um aumento nas vendas. O estilo minimalista da marca atrai um público específico de designers de interiores, arquitetos e clientes finais, que durante a pandemia tiveram a oportunidade de olhar com mais atenção para seus lares e trazer peças que representassem seu estilo de vida.

A idéia do estúdio nunca foi produzir peças utilitárias em grande escala, o nicho que Dani e Rodrigo amam ativar é o das criações exclusivas, coleções limitadas e encomendas especiais. O forte de Dani são as criações escultóricas e com apelo mais conceituais, já Rodrigo lida com moldes de repetição.

Peças como a simpática capivara, símbolo da cidade de Curitiba, vendida em grandes lojas e museus como souvenir, é peça de giro, mesmo tendo sido confundida com um hipopótamo ou com uma anta, são um sucesso absoluto! As xícaras pernudas são o encontro entre utilitário e escultórico - usadas por famosos como Michell Lott e Ronaldo Fraga. Coleção Oscar de esculturas, pratos e vasos inspirados no edifício Copan em São Paulo. As castanheiras, feitas para Manu Buffara são muito procuradas. Releitura de filtros de barro tradicionais em versão contemporânea e minimalista são exemplo de coleções limitadas. Não são muitas peças de linha, mas todas muito bem sucedidas. O forte do estúdio definitivamente são as peças exclusivas.

Rodrigo se juntou ao estúdio depois de algum tempo e hoje é parte essencial da marca. O casal usa 80% de seu tempo no estúdio e os outros 20% como redatora, no caso da Dani e Rodrigo com fotografia. São visões diferentes e complementares, que criam um mood único e especial para a Boitatá.

Assim que o mundo retornar às atividades presenciais normalmente, agende uma visita no espaço delicioso do casal em Campo Largo - fiquei sabendo que os clientes são recebidos com bolo de fubá e café fresco!

Enquanto não podemos nos deliciar com a visita, os canais eletrônicos estão sempre abertos e disponíveis para novos e incríveis projetos.

Falando em projetos, segundo Daniélle, 2021 será um ano muito especial, cheio de novos parceiros e projetos audaciosos; ainda não podemos saber exatamente o que será, para não dar spoiler, mas tenho certeza que vai ser magnífico.

Conheça este trabalho apaixonante e com uma narrativa impecável.

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